One Piece: Um shonen de respeito



 Neste ano One Piece mostrou mais uma vez que merecia ter uma nova chance aqui no Brasil. O título mais importante da atual grade da Jump não raramente consegue algum grande feito. De recordes de vendas nos mangás até exibição simultânea do anime em outros países. Não há como negar: 2010 é o ano de One Piece.

Arrisco a dizer que se a franquia fosse bem trabalhada desde o início no ocidente, teríamos um furacão comercial maior do que Naruto. Não que a criação de Eiichiro Oda seja superior a de Masashi Kishimoto – é impossível compará-los, na verdade. São completamente diferentes – mas, One Piece teria um enorme trunfo para garantir o seu sucesso em nosso país: Dragon Ball. As semelhanças são tantas que, além de atrair o público alvo, os mais antigos também teriam interesse pelas aventuras da tripulação de Luffy.
Entretanto, esta matéria não tem o intuito de chorar o leite derramado por algumas empresas (Alô, 4Kids!). One Piece ganhou uma notória visibilidade este ano e para cada fã que atraía um hater também surgia. Nunca vi um mangá provocar tamanha discórdia entre os otakus brasileiros e por isso fazer uma resenha sobre esta série não seria tão fácil. Mas uma coisa me motivou a fazer; Se One Piece lembra tanto Dragon Ball em alguns aspectos, porque alguns odeiam o primeiro e idolatram o segundo? Para mostrar a injustiça que fazem com os piratas, decidi separar o texto por tópicos comumente utilizados em discussões sobre a série.

Distinguindo o caricato da feiura
Esta é a maior desculpa usada por aqueles que não querem acompanhar este mangá. Mas convenhamos, dizer que o Oda não sabe desenhar é no mínimo engraçado. Seu traço tem esse estilo caricato, calcado na influência vinda de Akira Toriyama, que também tinha um traço bem incomum. Ambos são feios? Não, são originais. E sinceramente, depois que você conhece o mundo de One Piece, é impossível imaginar tudo aquilo com um traço mais realista. Casa perfeitamente com a temática absurda do mangá.
Sem mencionar os quadros com lutas. Oda desenha estas cenas tão bem que o leitor sente o impacto dos golpes naquele momento, pois tudo é repleto de detalhes. Aliás, por falar em detalhes, é impossível não gostar dos backgrounds. As cidades e ilhas são muito bem feitas, assim como os navios piratas.

História infantil/simples? Não mesmo.
O começo de One Piece pode ser sofrível para alguns. Por mais que o passado dos protagonistas seja emocionante, ou que o enredo mostre belíssimas histórias de superação, dificilmente a saga East Blue irá te empolgar, com exceção do arco do Arlong, talvez. A resposta para isso é que o autor utiliza estes primeiros arcos para montar uma base para o rumo que a série vai tomar no futuro. Pequenos mistérios são deixados aqui e ali, pra quando você menos esperar uma trama muito, mas muito maior surgir.
É surpreendente pelo fato de você não esperar mais que uma trama sobre aventuras com uma comédia insana (e eficaz). Quando menos se espera, guerras civis, intrigas políticas, corrupção e até mesmo o passado da humanidade estarão fazendo parte de alguma saga cheia de reviravoltas e mais surpresas. Nada acontece por acaso. Tudo é muito bem arquitetado pelo Oda, com direito a um show de narrativa. Isso fica ainda mais evidente depois que o Bando do Chapéu de Palha vai para a Grand Line, o enredo nunca irá te deixar sem vontade de continuar lendo. Pode até ser algo bobo, mas a narrativa do autor te prende de uma forma que você é obrigado a continuar lendo.
As sagas de One Piece seguem num plano geral de alto nível. São mais de 13 anos de estrada e a cada saga o autor esbanja criatividade, sempre buscando renovar a série para não cair na mesmice. Graças a isso, a duração do mangá não é mais um obstáculo. O “mundo próprio” da série também é fantástico, tem toda uma geografia feita pelo criador, com animais característicos de cada ambiente em que eles vivem e etc. É espantoso ver que tudo aquilo saiu da cabeça do “inexperiente” Eiichiro Oda.

Personagens: Uma espada de dois gumes.
A variedade de personagens geralmente é um argumento utilizado por fãs, só que nesse ponto One Piece peca um pouco. Admiro o autor quando se trata de trabalhar o desenvolvimento de centenas de personagens. Nenhum deles é esquecido e é perceptível o crescimento da maturidade deles.
Entretanto, o que não falta aqui são personagens irritantes. Não me refiro aos protagonistas, mas sim aos coadjuvantes criados especialmente para determinados arcos da história. Mesmo que tenham uma personalidade marcante, você não consegue se simpatizar com eles… Parece que todo o carisma foi apenas para o grupo principal.
As habilidades muitas vezes idiotas são outro ponto negativo. Sabe aquele vilão que você tem que odiar, torcendo pra levar uma baita surra? Em alguns casos, é impossível pensar assim porque o bendito vilão não convence graças a um poder tosco. Não dá pra levar ele a sério. Felizmente, os grandes inimigos do mangá não sofrem desse mal, visto que isso poderia afetar bastante o rumo tenso que a série vai levando.

Lutas para todos os gostos
A imensa quantidade de poderes no mundo de One Piece garante lutas memoráveis. Por dois fatores. Primeiro: elas são muito equilibradas, fazendo com que o lutador tenha que usar a sua inteligência pra superar o adversário, nada de apenas usar força bruta; Segundo: nada é garantido, o mocinho pode perder numa luta decisiva.
Nem tudo são flores nesse aspecto. Quando a comédia exagerada começa a tomar conta das lutas (como as do simpático Usopp), o clímax vai por água abaixo. É divertido, porém estraga bastante o foco da luta. Pra quem não se importa com isso, vai curtir do mesmo jeito como nas lutas mais sérias.

O que um bom mangá shonen precisa ter
Além de ser um sucesso comercial, One Piece é um ótimo mangá e sem dúvida merece mais respeito (mesmo com os contras ditos acima). Tanto por parte das empresas como do público otaku (brasileiro, principalmente). O mangá tem criatividade de sobra no traço, roteiro MUITO bom e dinâmico, personagens marcantes, lutas e para mim o mais importante: consegue emocionar. Aqueles que forem além da primeira saga não irão se arrepender.
Voltando ao nosso mercado, se trouxeram Evangelion de volta, por que não apostar novamente em Luffy, Zoro, Nami, Sanji e Usopp? Afinal, tenho certeza que OP é o melhor shonen mainstream da atualidade. Ah, mas se forem relançar, tem que ser em formato tanko original e desde a primeira edição, até por que já chega de fazerem burradas com a franquia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Curtir