Certificado de Censura: Acha que os mangás se safam?

Bem, chegou ao meu conhecimento um fato muito, muito triste. Naruto, recentemente lançado pela Panini, sofreu 2 censuras no primeiro volume. A primeira foi com relação a um dedo que o personagem dá para seu professor em um flashback. Veja essa comparação de imagens fornecida pelo usuário celasvictoria do fórum. Os dedos de Naruto foram fechados, deixando-o com os punhos fechados (o que isso representa? Nem faço idéia). O segundo foi com relação ao "Oiroke no Jutsu" (popularmente conhecido como sua adaptação americana, "Sexy no Jutsu"), onde a nudez da "Oiroke Naruto" foi mais coberta do que já era na versão original.

Por que isso aconteceu? Bem, Elza Keiko, da Panini, se justificou. Segundo ela, depois de um bom tempo de negociação, a Panini foi convencida pela editora japonesa Shueisha a publicar no Brasil a versão americana do mangá. Isso não significa que obrigatoriamente teria a censura. Pelo que foi explicado pela mesma, a própria editora desconhecia a existência dessas censuras, e Elza garante que os próximos volumes estarão completamente isentos de censuras ? apesar de continuar com as onomatopéias traduzidas, como na versão americana.

Bem, se a palavra for cumprida, conseguirei continuar colecionando Naruto. Digo, se for assim mesmo, será um volume censurado e mais uns 50 e tantos sem censura. Mas só esse volume gera dois problemas. O primeiro é: considerando que o público no Brasil já não compra mangás "porque pode ler de graça na net e blábláblá", agora um argumento a mais foi criado para continuar o pensamento. O segundo é: e se formos forçados a comprar mais lixo dos americanos?

Talvez muitos não saibam, mas um bom número de mangás nos Estados Unidos sofreu censura. Konjiki no Gash!! (conhecido no ocidente como Zatch Bell), por exemplo, teve nomes trocados para se adaptar à versão animê, além de edições feitas para ocultar a nudez dos personagens (o protagonista, por exemplo). Mas um dos casos mais extremos por lá sem sombra de dúvidas foi Dragon Ball (e Dragon Ball Z, consequentemente). A nudez dos personagens foi ocultada de várias formas, mas não foi só isso. O mais assustador foi o que o personagem Sr. Popo sofreu. O personagem, um ser completamente preto, foi modificado por (de acordo com a visão da editora americana, pelo menos) se parecer demais com uma caricatura de pessoas africanas. Os lábios do personagem foram apagados para ele ficar menos humano. Felizmente, versões sem cortes do mangá já foram lançadas por lá.

Esses foram apenas os exemplos mais conhecidos. Muitos mangás por lá sofreram censuras (aliás, o site Fight: CMX Manga é uma boa referência, mostrando as diversas censuras que foram aplicadas ao mangá Tenjho Tenge, publicado nos Estados Unidos pela CMX Manga), sendo que uma percentagem considerável deles veio das mãos da Viz Media (responsável pelas censuras de Naruto citadas previamente). Isso me assusta muito, pois, há algum tempo atrás, a Viz anunciou interesse em comercializar seus mangás conosco. Eu não gostaria de ver algumas das atrocidades da Viz Media em nosso mercado, que até hoje publicou um número considerável de mangás sem censura (salvo raras exceções).

Aí a pergunta que não quer calar: por quê? Bem, acho que a maioria diria "porque eles gostam de censurar, oras!", mas essas pessoas são bem sem argumento. Já outras usariam o bom e velho argumento de sempre: "se não gosta do material, não licencie ele em primeiro lugar!", que de fato, é muito controverso. Veja por exemplo o previamente citado Konjiki no Gash!!. Konjiki no Gash!! é um mangá shonen, e tem um appeal enorme para com as crianças, devido à história simples, a temática fantasiosa, além das clássicas ladainhas sobre a amizade. Mas o que é infantil pros japoneses nem sempre é infantil pros americanos, e Konjiki no Gash!! é um exemplo claro disso. O mangá apresenta uma diversidade de fatores que jamais seriam encarados no ocidente como apropriados às crianças. Digo, vejam a personagem Big Boing (que teve o nome trocado para Suzan na versão americana, por razões óbvias), por exemplo. A personagem é um fanservice gigante, e teria que mudar a faixa etária do mangá para maiores de 14 anos só por causa dela. Se o mangá for direcionado a um público ao qual não pertence, ele falhará miseravelmente comercialmente, e a editora só tem prejuízo.

As editoras americanas sempre encontram essa parede na hora de editar qualquer mangá: o mangá infantil tem que ser REALMENTE inocente, mas a inocência japonesa e a inocência americana diferem muito entre si.

Animês baseados em mangás geralmente possuem um "orgulho" menor que os mangás em si por parte dos produtores, mas se um mangá sai do Japão e é censurado nos EUA, eu diria que há uma boa chance do próprio autor ter aprovado isso. Ou seja, nem sempre é justo colocar a culpa completamente na editora ou na empresa responsável pela distribuição.

Mas chega de falar nos EUA, vamos falar da gente. Felizmente, quase todos os mangás publicados no Brasil vieram sem edições, sem cortes, puros e limpos. Mas "quase" nunca será bom o bastante, e sim, houve exceções. A mais conhecida é Dragon Ball. Aqui, apesar de terem exibido uma quantia bem considerável de fanservice no mangá, apagaram coisas explícitas. Enfim, editaram as cenas em que vemos mamilos de personagens femininos (peitos de mulher).

Um bom exemplo é numa cena da parte da Vovó Uranai, onde Kulilin abaixa a camisa de Bulma na frente do Mestre Kame para fazê-lo sangrar pelo nariz. Para deixar a cena menos explícita, a Conrad adicionou grandes onomatopéias "Boing Boing" em cima dos seios da personagem. Além disso, certas revistas pornográficas do Mestre Kame foram censuradas com as famosas tarjas pretas (para uma melhor referência, recomendo que dêem uma olhada na seção sobre censuras do mangá no site Kamisama.com.br). Felizmente, as recentemente lançadas Edições Definitivas estão isentas de censura.

O outro caso foi Crying Freeman, que foi mais complicado. No Japão, a primeira edição do mangá foi sem cortes, mas a segunda teve. Nos Estados Unidos, os editores americanos (da Viz Media e da Dark Horse) retiraram as censuras e lançaram ?sem? cortes. Aqui, por outro lado, a Panini pegou a segunda edição japonesa do mangá para lançar, ou seja, a que possui censura. Ou seja, tem censura, mas é de mãos japonesas mesmo.

Bem, acho que já disse tudo que queria dizer (meu Deus, essa coluna ficou miseravelmente pequena...). A censura em mangás é ainda mais controversa que a censura nos animês. Muitos argumentos podem ser postos contra ela, mas muitos podem rebatê-la. Se dizem "se a editora não gosta do material, que não publique!", responderão com "a editora não tem culpa da diferença da faixa etária". Se dizem "publique sem censura e indique a um público mais velho!", responderão "a editora teria um enorme prejuízo se fizesse isso". E o argumento final: "Ora, então, que não publiquem o mangá!", seguido da resposta "Bem, aí sim os fãs iriam reclamar".

Marcelo "Sahgo" Gouvêa

P.S.1 ? Eu particularmente não considero a tradução de onomatopéias como censura, mas sei que para muitos, isso é um pecado horrendo e horrível, que faz qualquer outro dos 10 mandamentos católicos parecerem travessuras. Acho que é uma coisa muito de cada um, mas não é realmente censura.

P.S.2 ? Se considerarmos trocas de nomes como censura, um número maior de mangás poderiam ser considerados censurados, incluindo Yu-Gi-Oh! e Guerreiras Mágicas de Rayearth.

P.S.3 ? Acho que vale muito a pena citar a proibição do lançamento do mangá Kodomo no Jikan (chamado nos Estados Unidos de "Nymphet"), que foi proibido de ser lançado nos Estados Unidos por causa de seu roteiro-base (uma garota gostar de seu professor, sendo que a diferença de idade entre os dois é gritante, e a garota demonstrar claro interesse sexual por ele). A situação ainda não foi concluída, talvez eles mudem de idéia, talvez não. Eu não tenho uma opinião muito clara quanto a isso, pois sou quadrado e não gosto de romances entre garotinhas e homens.

P.S.4 ? A melhor referência com relação às censuras feitas em mangás americanos é este tópico do fórum do site AnimeOnDVD. Está em inglês, mas lista (possivelmente) todas as censuras ocorridas em mangás americanos, das mais diversas editoras. A recordista é a Viz Media.

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